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domingo, 21 de julho de 2013

Crônica | De banana à cereja de bolo | MPI*


Ser do bem
    A chuva cai lá fora. É frio. Ao som de Sei, Nando Reis, me sinto frio. Calculista. Maquinando palavras que já dissera e o desejo de escrevê-las, a quem interessar possa...
    Acho que sou do bem. É que só me lembro das partes boas das vivências. E esqueço tudo aquilo que me pedem pra esquecer. Apago do registro, memória interna. Não me serve e não me peça como testemunho, se me pediu para esquecer.
    Resolvi me submeter, mais uma vez, ao serviço público de saúde. Primeiro, uma questionável consulta com otorrino, que me solicitou uma audiometria a ser feita em sua clínica. Acho que completará três anos de espera. Depois uma consulta com um nefrologista, por uma taxa estranha nos exames básicos. Deve estar com dois anos. E nada. Antes dos seis meses, uma visita ao CEO.
    No Centro de Especialidades Odontológicas, um canal do dente 35. Feito.

Tipo *menor preço por item
    Há nas licitações de serviços e aquisições dos governos uma coisa chamada Tipo Menor Preço por Item/TMPI. Eis que já usei 02 grampos, grampeando uma vez e tendo que destravar o grampeador e retirar o excedente, incompleto. Eram grampos vermelhos que substituíram os brancos. Estes eficientes, aqueles, o barato que saiu caro.
    Então no CEO, encontrei um amigo que iniciaria um canal, uma faria ou continuaria um canal de molar, tipo quatro (raízes) em um. Contei todo o processo dos canais que já havia feito. A ela e aos outros que se submeteriam a tal procedimento. De que não doeria, pois anestesiado; de que não seria de uma vez, pois há a instrumentalização etc. etc.
    Chega então minha vez e a despeito do bom atendimento e da qualidade dos profissionais, dos quais tenho prazer de nominar pelo menos os três que lembro: Fabrícia, Vanuza e Conceição; a despeito da amizade que se avizinha e da que se reafirma, doeu.
    O anestésico pareceu não anestesiar ou seria trauma do TMPI tipo-menor-preço-por-item, psicológico como disseram alguns amigos, medo? A instrumentalização se deu em hora e meia de suor num segundo momento. Eu, que costumo deitar feito uma banana mole, relaxado na cadeira do dentista; eu, que sempre fiz obturações sem anestésico (pelo menos desde que me entendo de gente)... eu, que tranquilizei a todos, lá estava me sentindo menor que uma cereja na cadeira, encolhido, ruborizado tendo que dizer sim como resposta direta a pergunta mais obvia dessas situações: Doeu?

Ser do mal
    Dia 31, volto à UBSF São Francisco para finalizar o tratamento. É que, no CEO, se faz o canal e o dentista solicitante fará a restauração. Vai obturar. Esse dente 35 (e o vizinho, 34) passou por remendos diversos em suas laterais. Afastados pela extração dos 36 e 37, não ficaram parados e, qualquer alimento mais duro os afasta mais e pressiona as emendas, que caem rapidinho. Minha arcada inferior parece um leque pendendo pra esquerda.
    Espero apagar da memória as partes ruins, que não tenha que brincar com os nomes dos profissionais, como já fiz antes de outros; que não tenha de, tão brevemente, extrair mais um. Mas se for o caso, para não me deixar ser do mal, farei. Agradecerei a Deus, já que entre ser banana e cereja, prefiro ser a cereja desse bolo, que é a vida.
    Possa não ser tão bom quanto gostaria, mas venho me esforçando. E você?

Evaldo Pedro da Costa Brasil
Esperança/PB, em 21 de julho de 2013

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Crônica | O Programa Bolsa Família e o Bolso das Famílias de Programa | NRSS*

2011.........................................
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05JAN Ilustração com o logo do programa, conforme o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. (Atualização 2021).
FONTE: ASCOM, via Jornal Grande Bahia. TRATO: Evaldo Brasil

O Programa Bolsa Família e o Bolso das Famílias de Programa

    Há muito não ia a uma sessão na Câmara Municipal de Esperança/PB. Trabalhando também à noite, só em situações excepcionais. Eis que a solicitação de uma Audiência Pública sobre a Greve na Educação me levou até lá, dia 24 de maio.
    Há muito não via uma sessão tão desigual. Trabalhos à parte, só em feiras promocionais. Eis que a solicitação da Audiência Pública sobre a grave crise na Educação foi aprovada por lá, dia 27 de maio, às 14h. Sexta-feira.
    Há muito não via fala tão paradoxal. Trabalhadores à parte, as famílias que recebem do Programa Bolsa Família/PBF foram associadas à violência. Sobre essas graves crises, o Vereador Adailton Santos disse do batalhão local estar colocando cerca eletrificada (!)
    Há muitos pais de família que minimizam a situação de risco em que vivem com os pequenos valores do PBF. Condicionados à manutenção do filho na escola, à vacinação etc. Se pai, mãe ou ambos gastarem “todo” esse dinheiro com o que quer que seja... Esses dois condicionantes já me dão por convencido do valor do PBF. Como se não bastasse à injeção do montante de recurso na economia local.
    Há argumentos fortes contra o PBF: Gera preguiça e acomodação. Ninguém quer mais ganhar 40, 50 reais pra ajudar a encher uma laje, ninguém mais quer ser chamada de peniqueira pra ganhar, honestamente 20 ou 30 reais numa casa de família, pra lavar, passar, cozinhar... Ah, quase me esqueço de lembrar os prazeres de comer e ser comida na casa dos bons e fiéis patrões... e, quanto à laje, entre amigos e com aperitivo e tira-gosto, até de graça.
    Com um pouco de dinheiro na mão qualquer pessoa corre dois riscos: de se acomodar ou dar um passo pra sair da miséria absoluta. No primeiro caso, paro. No segundo, aliado ao PBF há programas de capacitação e estímulo a pequenos negócios. Com um pouco de comida, sabão e uma roupa limpa, dá para procurar trabalho.
    Sem um pouco de dinheiro na mão qualquer pessoa corre dois riscos: de se acomodar ou se desesperar. No primeiro caso, fica à mercê dos chefes políticos e, na emergência de não morrer e se resolver para o agora e nada mais, se vender e ser massa de manobra. Voto, em uma palavra, a cada eleição. Mula, em outra palavra, a cada circulação de droga comandada pelos chefes. No segundo caso, tomar atitudes agressivas, violentas não criminosas, mas respondendo à violação a que são submetidas diuturnamente por esta sociedade de consumo da qual somos parte.
    Não sei, não. Mas entre discursos bem articulados que pouco dizem, mal articulados que dizem muito e silêncios, fico sem saber o que fazer diante do fato de que todos têm razão e, ao mesmo tempo, razão nenhuma. E no diálogo dos Edis com a plateia, me vejo sendo convidado a referendar o que, nem sempre sei, nem sempre concordo. Mas, silenciosamente ou com um leve meneio da cabeça, me vejo obrigado a, comigo mesmo, ora concordar ora discordar de todos eles.
    O Bolsa Família deu, dá e continuará dando votos e causando a insatisfação de quem, dele, não pode ou não deveria tirar proveito. Imaginem que deu trabalho para a ex-vereadora Tica, nossa companheira de partido, retirar o nome da lista de beneficiários, vez que agricultora de assentamento, seguro safra ou coisa que o valha, passou alguns meses do seu único mandato ainda na lista. Burocracia, lentidão, ignorância...
    Não, não sei. Mas gostaria de saber. Se o pior seria não ter o Programa Bolsa Família e/ou manter o Bolso das Famílias de Programas. Ou se uma coisa e outra é a mesma coisa e *nada representam na singularidade do ser.
Evaldo Pedro da Costa Brasil
Esperança/PB, em 30 de maio de 2010

Eleições | Votação em Esperança | R24*

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